Violência obstétrica atinge 2 em cada 3 mulheres no RJ
Por Redação
04/09/2025 às 07:31:03 | | views 2446 @Jonathan Borba
Toques vaginais sem consentimento foram a forma mais comum, segundo levantamento da Fiocruz
Cerca de dois terços das mulheres que deram à luz no Rio de Janeiro entre 2021 e 2023 relataram ter sofrido algum tipo de violência obstétrica durante o parto. A informação consta do suplemento fluminense da pesquisa Nascer no Brasil 2, divulgado nesta quarta-feira (3) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A forma mais frequente de violência mencionada pelas 1.923 entrevistadas foi o toque vaginal inadequado, citado por 46% das mulheres. Os relatos envolvem procedimentos realizados sem explicação, consentimento ou privacidade. Em seguida, aparecem denúncias de negligência (31%), como demora no atendimento e sensação de abandono, e de abuso psicológico (22%), com queixas de broncas ou repreensões por parte da equipe de saúde.
O estudo, considerado o maior inquérito sobre parto e nascimento do país, ouviu mulheres em 29 maternidades públicas, privadas e mistas, distribuídas por todas as regiões do estado. A divulgação dos dados nacionais está prevista para 2026.
Segundo a coordenadora-geral da pesquisa, Maria do Carmo Leal, a violência obstétrica foi mais comum entre mulheres jovens, adolescentes, idosas, com baixa escolaridade ou beneficiárias de programas sociais — ou seja, as mais vulneráveis socioeconomicamente. Também foi mais frequente em partos realizados na rede pública e em partos vaginais.
“Quanto mais tempo a mulher permanece no hospital, maior a chance de sofrer violência obstétrica”, afirmou Leal.
A pesquisa também registrou 53 casos da manobra de Kristeller, prática em que o profissional empurra ou sobe na barriga da parturiente para apressar o parto. O procedimento é proibido por lei no estado desde 2016 e desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, devido aos riscos à mãe e ao bebê.
Caso a prevalência identificada na pesquisa seja aplicada ao total de partos realizados no Rio de Janeiro em 2022, estima-se que cerca de 5.600 mulheres tenham sofrido uma das formas mais graves de violência física durante o parto.