Violência cai no PR, mas tráfico avança nas fronteiras


Por Redação

31/07/2025  às  15:31:12 | | views 2432


@ Ari Dias/AEN

Governo comemora queda histórica nos homicídios e roubos em 2025, mas especialistas alertam que recorde de apreensões pode revelar desafio crescente nas fronteiras do estado


O Paraná registrou queda expressiva nos principais indicadores de violência no primeiro semestre de 2025, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (31) pela Secretaria da Segurança Pública do Estado (Sesp). A redução nos homicídios dolosos e roubos é a menor da série histórica. No entanto, o volume recorde de drogas apreendidas no mesmo período acende um alerta sobre a atuação contínua — e possivelmente crescente — do crime organizado nas rotas de tráfico que cruzam o estado.

 

O número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), que inclui homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, caiu 28,5% em relação ao mesmo período de 2024 — de 940 para 672 casos. Dentro desse grupo, os homicídios dolosos recuaram 29%, totalizando 631 registros. O governo estadual afirma que 221 dos 399 municípios não registraram homicídios no semestre.

 

A Secretaria atribui os resultados à ampliação de investimentos em tecnologia, reforço no efetivo policial e maior integração entre as corporações. Entretanto, a apresentação dos dados sem indicadores sociais ou de contexto territorial pode limitar a compreensão da real dimensão da violência e seus deslocamentos internos, segundo especialistas.

 

Queda em crimes patrimoniais é celebrada, mas sensação de insegurança persiste

Os crimes contra o patrimônio também apresentaram redução: 5,8% a menos que no mesmo semestre de 2024. Foram 179,9 mil ocorrências registradas. Os roubos caíram 19,9%, com destaque para a eliminação de registros de assaltos a instituições financeiras, algo inédito desde o início da série histórica.

 

Apesar do dado simbólico, há dúvidas sobre o quanto esses números refletem uma melhoria estrutural na segurança urbana ou apenas mudanças de foco nas práticas criminosas, como o aumento de fraudes e crimes cibernéticos — que ainda são pouco representados nas estatísticas estaduais.

 

Recorde de apreensões pode indicar alta na circulação de drogas

No sentido oposto da redução dos crimes violentos, o estado registrou crescimento de 27,5% nas apreensões de drogas, atingindo 287,9 toneladas — o maior volume já registrado. Em comparação com 2018, o salto é de mais de 530%. Apenas de maconha, foram 284 toneladas interceptadas; de cocaína, 2,36 toneladas.

 

Embora o governo interprete os números como reflexo da eficiência policial, especialistas ouvidos por veículos da imprensa avaliam que apreensões maiores não necessariamente indicam queda na criminalidade, mas sim aumento da oferta e fluxo de entorpecentes no território paranaense. Com fronteiras porosas e posição estratégica na logística do tráfico sul-americano, o Paraná pode estar consolidando sua função como corredor de escoamento de drogas para outras regiões do país.

 

Discurso de sucesso esbarra em lacunas de longo prazo

A Secretaria da Segurança Pública destaca os investimentos do governo estadual como fator-chave nos resultados. “A maior integração entre as forças policiais está refletindo em maior eficiência na proteção de vidas e combate ao crime”, afirmou o secretário Hudson Leôncio Teixeira.

 

Até o momento, não há indicadores disponíveis que demonstrem se a redução dos homicídios é sustentável no longo prazo, nem se houve queda nos índices de reincidência ou aumento na resolução de casos. Também não foram apresentados dados sobre feminicídios, violência doméstica, desaparecimentos ou crimes contra a população negra e periférica — variáveis que poderiam revelar realidades ocultas por médias estaduais.

 

A redução de homicídios e roubos é positiva e merece reconhecimento. Mas a leitura crítica dos números — em especial diante do crescimento expressivo do tráfico — sugere que o Paraná ainda enfrenta desafios estruturais para romper com ciclos de criminalidade e vulnerabilidade social.



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